O compliance deixou de ser apenas um mecanismo de controle para se tornar um pilar estruturante da governança corporativa moderna.
Segundo o Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO), essa transformação reflete o amadurecimento das organizações diante de um cenário global mais complexo, marcado por volatilidade geopolítica, aceleração digital e crescentes pressões regulatórias.
Essa nova realidade tornou inevitável a integração entre compliance e gestão de riscos corporativos. Pois é dessa conexão que nasce a verdadeira capacidade de uma organização proteger sua reputação institucional, garantir integridade nas decisões e sustentar o desempenho de forma consistente ao longo do tempo.
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ToggleO avanço do compliance à complexidade do ambiente de negócios
De acordo com a Federation of European Risk Management Associations (FERMA), 78% das empresas europeias afirmam que a interdependência entre riscos e sustentabilidade exige o fortalecimento dos programas de compliance como parte da gestão de riscos.
Essa tendência já se reflete também na América Latina, onde as demandas ESG e as regulações de proteção de dados vêm acelerando o amadurecimento dos programas de conformidade.
Mas esse movimento não é apenas regulatório, é estratégico. As empresas perceberam que o compliance robusto é o alicerce da confiança corporativa e a base sobre a qual se constroem relações sólidas com clientes, investidores, reguladores e a sociedade.
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O papel do compliance nos três níveis organizacionais
Diante desse cenário, um programa de compliance eficaz precisa atuar de forma integrada em três níveis complementares, estratégico, tático e operacional, sustentado por quatro eixos fundamentais: estrutura, cultura, tecnologia e pressão regulatória.
Cada um desses eixos define o grau de maturidade e resiliência da governança corporativa, determinando a capacidade da organização de equilibrar controle, desempenho e inovação.
Compliance estratégico e governança corporativa
No nível estratégico, o compliance deixa de ser uma função de fiscalização e assume papel de liderança na governança corporativa.
É nesse nível que ele atua como elo entre ética, risco e decisão, influenciando diretamente o rumo da organização. Essa função exige visão sistêmica, integração entre áreas e apoio da alta administração.
Segundo o COSO, o compliance estratégico deve estar integrado ao sistema de Gestão de Riscos Empresariais e reportar-se diretamente ao conselho ou ao comitê de auditoria. Essa estrutura garante independência, legitimidade e influência nas decisões estratégicas, condições essenciais para que o compliance exerça seu papel com autoridade.
Entretanto, como destaca a Harvard Business Review, muitos Chief Compliance Officers (CCOs) ainda enfrentam falta de autonomia, ausência de orçamento próprio e dificuldade em demonstrar retorno sobre investimento (ROI). Para romper esse ciclo, é necessário institucionalizar o compliance como uma função estratégica, com recursos dedicados, metas claras e indicadores de impacto vinculados aos objetivos corporativos. Essa abordagem legitima a função e a reposiciona como geradora de valor dentro da estrutura organizacional.
Considerando esse panorama, a Risk and Insurance Management Society (RIMS, 2024) reforça que o desafio das empresas está em converter resultados de compliance em indicadores estratégicos. Nesse caso, a solução está na criação de painéis executivos integrados, conectando KRIs (Key Risk Indicators) e KPIs (Key Performance Indicators) a resultados de negócio, como redução de perdas, eficiência operacional e mitigação de riscos reputacionais. Dessa forma, o compliance deixa de ser percebido como custo e passa a ser reconhecido como fonte de valor tangível e diferencial competitivo.
Essa evolução, no entanto, não depende apenas de estrutura, depende de cultura. O estudo The State of Risk and Compliance 2024, da NAVEX Global, mostra que a resistência das lideranças operacionais continua sendo uma das maiores barreiras à maturidade organizacional.
Mudar essa percepção exige traduzir o compliance em linguagem de negócio, demonstrando como ele acelera decisões seguras, viabiliza inovação responsável e protege a reputação corporativa.
Como defende James Lam (Wiley, 2023), o segredo está em construir uma cultura de tomada de decisão orientada por risco, um modelo em que as decisões são pautadas por consciência e análise, e não por medo ou aversão ao risco. Essa mentalidade transforma o compliance em parceiro estratégico das áreas de negócio, não em barreira operacional.
A mesma lógica se aplica quando olhamos para a expansão da governança além das fronteiras da empresa. Com o avanço de legislações anticorrupção globais, o papel do compliance passou a abranger fornecedores, distribuidores e parceiros comerciais. Programas modernos já incorporam cláusulas contratuais de integridade, monitoramento automatizado de terceiros e processos contínuos, práticas que consolidam o compliance como guardião da ética e da transparência em todo o ecossistema empresarial.
Por fim, como afirmam Kaplan & Norton (HBR, 2023), ética, sustentabilidade e governança deixam de ser dimensões paralelas quando metas estratégicas, indicadores de risco e objetivos de compliance estão integrados.
Esse alinhamento permite ao compliance participar ativamente do ciclo de planejamento estratégico, garantindo coerência entre propósito, risco e execução.
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Compliance tático e execução coordenada
Se o compliance estratégico define o rumo, o compliance tático é o que garante que a direção seja seguida. É nele que as diretrizes se transformam em práticas, assegurando que a estratégia se traduza em execução consistente, mensurável e auditável.
De acordo com o Journal of Risk and Financial Management, o nível tático é responsável por traduzir políticas e códigos em práticas operacionais. É fundamental compreender o impacto disso já que segundo a FERMA, mais de 60% dos gestores de compliance relatam sobrecarga de tarefas e falta de integração entre áreas. Um sinal claro de que a maturidade depende tanto da coordenação interdepartamental quanto da clareza dos papéis.
A solução está em governança colaborativa, com acordos formais (SLAs) entre compliance, jurídico, finanças e operações. Essa prática reduz retrabalho, melhora a previsibilidade das entregas e fortalece a accountability interna.
Além disso, organizações com uma “aversão cega ao risco”, como aponta a Harvard Business Review, acabam sacrificando inovação e resiliência.
O caminho, portanto, é redefinir o papel do compliance tático como facilitador do negócio, promovendo uma inovação responsável, em que o controle não bloqueia o progresso, mas garante que ele aconteça com segurança.
A tecnologia é um pilar central nesse processo. O relatório da Risk.net, Top 10 Operational Risks for 2025, destaca que a automação de processos e follow-ups é hoje o principal motor de eficiência em compliance.
Soluções baseadas em plataformas integradas de Governança, Risco e Compliance ancoradas nos frameworks ISO 31000 e COSO, permitem consolidar dados, otimizar análises e criar trilhas completas de auditoria.
Mas, como reforça a ISO, nenhuma automação substitui o julgamento humano qualificado. O equilíbrio entre tecnologia e discernimento analítico é o que assegura decisões contextualizadas e alinhadas à estratégia corporativa.
Compliance operacional como rotina e valor comprovado
No nível operacional, o compliance ganha forma no dia a dia, nas auditorias, controles e evidências que sustentam a integridade do sistema.
Segundo o Risk Management Magazine, é aqui que as falhas mais comuns acontecem, como a sobrecarga de tarefas, falta de clareza nas responsabilidades e dependência excessiva de planilhas.
O Journal of Risk and Financial Management alerta ainda para a pressão das áreas de negócio por “flexibilizar” regras, priorizando velocidade em detrimento da conformidade, um erro que, como lembra Nassim Nicholas Taleb em The Black Swan (Penguin, 2023), costuma anteceder crises previsíveis.
A ISO 31000 orienta que todo controle deve estar vinculado a um risco identificado, com responsabilidades e evidências rastreáveis e a FERMA e o COSO complementam que o uso de workflows inteligentes, alertas automáticos e trilhas digitais é sinal de maturidade operacional.
Além disso, estudos como How to Measure Anything in Cybersecurity Risk (Hubbard & Seiersen, 2023) reforçam a importância de quantificar riscos em áreas críticas, integrando dados de ERP, finanças e compliance para antecipar vulnerabilidades e priorizar ações preventivas.
Nesse nível, o fortalecimento da auditoria interna como terceira linha de defesa, conforme o Institute of Risk Management (IRM), é fundamental para garantir independência, credibilidade e rastreabilidade.
A integração entre níveis e o novo papel do compliance na gestão de riscos
Quando os três níveis, estratégico, tático e operacional, atuam de forma coordenada, o compliance deixa de ser uma estrutura de controle e se torna um sistema de governança vivo, capaz de aprender, evoluir e sustentar valor no longo prazo.
O COSO recomenda que essa integração siga três princípios:
- Reportar ao mais alto nível de governança.
- Atuar de acordo com o apetite de risco da organização.
- Manter um ciclo contínuo de aprendizado e melhoria.
A FERMA complementa que as empresas mais maduras são aquelas que vinculam seus indicadores de compliance, como treinamentos, auditorias e denúncias tratadas, a métricas de desempenho corporativo. Essa visão holística transforma o compliance em ferramenta de sustentabilidade empresarial.
Como sintetizam Kaplan & Norton (HBR, 2023), o verdadeiro valor da governança está na coerência entre risco, estratégia e execução. E embora frameworks como ISO 31000 e COSO ERM ofereçam a base metodológica, o diferencial competitivo está na capacidade de adaptá-los à realidade e à cultura de cada negócio.
A cultura, aliás, é o elo invisível que conecta todos os níveis. Empresas que tratam o compliance como parte da sua identidade, e não como obrigação, segundo a Harvard Business Review, apresentam melhor desempenho em métricas ESG e maior satisfação dos stakeholders.
Por fim, o Corporate Governance Framework (COSO/NACD, 2025) aponta que as organizações mais resilientes são aquelas que combinam transparência, accountability e aprendizado contínuo, transformando o compliance em diferencial de credibilidade e crescimento sustentável.
O novo papel do compliance e da gestão de riscos
O futuro da governança corporativa, segundo o COSO e a FERMA, passa pela integração plena entre risco, conformidade e governança.
Essa convergência cria uma visão sistêmica na qual o compliance deixa de ser apenas linha de defesa e se consolida como componente estratégico essencial para proteger valor, fortalecer reputação e sustentar o crescimento responsável.
Na prática, o compliance estratégico garante legitimidade e visão de longo prazo, o tático, traduz políticas em comportamentos, e o operacional, sustenta a rastreabilidade e a confiança que dão vida ao sistema.
Como resume Peter L. Bernstein, em Against the Gods (Wiley, 2023): “Gestão de risco é o exercício da razão diante da incerteza.”
Nesse contexto, o compliance emerge como instrumento ético e institucional dessa razão. Unindo propósito, controle e responsabilidade na construção de organizações mais resilientes, confiáveis e sustentáveis.
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